domingo, 4 de abril de 2010

A SOLIDÃO E O INDIVIDUALISMO: dificuldades de relacionamento real no mundo virtual


Coluna Dr. Eduardo para o Jornal Super Notícia do dia 04/04/2010.

Romances de internet, em geral, duram uma media de três encontros reais, ao vivo. Ou ainda quem viu que na Coreia, um casal foi preso, pois, seu filho real morreu de fome e sede com menos de um ano, pois tal casal era viciado num jogo em que cuidavam de um bebê virtual. DEUS do céu! Uma criança virtual gordinha cuidada 24 horas por dia por pais que literalmente abandonaram o filho real a ponto deste morrer por inanição e falta de cuidados básicos! Essa relação estranha do ser humano com as telas em que o teclado substituiu o abraço, letras, substituíram a voz, o olhar, a mentira substitui o olho no olho, a sinceridade.
Personagens são criados como segunda vida e os autores, seres reais, nunca se sentem confiantes e preparados e ai se escondem nas redes de relacionamentos - Orkut, Facebook, My Space, entre outros – com apelidos, e perfis ¨maquiados¨e falsos .
Chega de enganação! Temos que assumir a realidade: no fundo o que está acontecendo é uma falência nas relações homem, mulher, pais e filhos, alunos, professores, enfim, de ser humano para ser humano. Está havendo uma onda de carência afetiva como nunca visto antes. A desesperada busca por um cafuné de coração e alma, a sensação de que não somos amados por filhos, por pais, por namorados(as), que não somos admirados no ambiente de trabalho, ou que os amigos não são tão íntimos e fiéis; o certo é que a tremenda timidez, insegurança, baixa auto-estima, têm sido compensados pelo abuso de bebida, drogas, sexo, e por telas!
Fugir da realidade, já que para ser sucedido na vida, teríamos que seguir modelos de corpos perfeitos de musas e ¨sarados¨, ter a capacidade de um nerd, a sensibilidade de um poeta, a riqueza de um ídolo do futebol, TV, enfim, num mundo onde a aparência, o poder, a vaidade, a inveja, o ciúme, a necessidade de consumo, a maternidade, o excesso de eletrônicos, nos faz a cada dia mais ¨ocos¨, carentes, insatisfeitos: enquanto isso no quarto ao lado, seu filho viciado em games e Orkuts, sente sua falta e vice-versa . Num outro, marido vendo futebol, esquecido da esposa sobrecarregada com as tarefas de mãe, dona de casa, profissional que batalha fora para aumentar a renda. Seu colega de trabalho desconfiado e competitivo, te enxerga como ameaça e o clima é pesado.
E haja bebida, droga, Viagra, sexo, ¨balada¨ e gente deprimida, estressada!
Se sou pessimista! Ao contrário, quando o Caos se instala, é porque esta próximo de se iniciar um novo tempo: de fraternidade, justiça, afeto, serenidade e paz de espírito!!!

sábado, 3 de abril de 2010

Nossos medos de hoje são frutos de acontecimentos passados?



O medo está ligado a uma disfunção de neurotransmissores, notadamente a serotonina. Muitas vezes, as pessoas têm um tipo de medo fóbico, por exemplo, medo de chuva, de escuro, de altura, de ambientes fechados, e buscam uma situação traumática na infância ou em períodos anteriores ao atual, que poderiam justificar esses medos esquisitos. O medo é inato e já faz parte da estrutura pessoal. Na verdade, é como se essa sensibilidade ao medo fosse característica das pessoas medrosas. Quando o meio ambiente expõe a pessoa ao medo, no início de sua vida, ele se torna consciente ou manifesto. Por isso, muitas vezes se investiga o passado, como se a história fosse o fator que levaria ao medo ou à fobia, mas esta é uma explicação simplista.

O que é medo de ser feliz?



Muitas pessoas temem as situações prazerosas, que dão sensação de plenitude e satisfação, por achar que não teriam direito a tanta alegria, felicidade e bem-estar. Infelizmente, por uma questão cultural, familiar, religiosa, sempre se ligou a sensação de prazer à culpa, à punição.
Se Deus nos deu um sistema de emoções, o límbico, o que busca prazer, é porque esse sistema deve ser usado. Temos de conseguir estar felizes, ter prazer, jamais temendo esse estado tão gratificante. O ser humano nasceu para buscar a felicidade, o prazer, a luz, a plenitude.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O que é medo?



Medo é sempre uma sensação de perigo diante de uma situação desconhecida, de um predador, ou de circunstâncias do dia-a-dia, em que pressentimos não sermos capazes de enfrentar tal situação.
O medo é normal diante de uma situação desfavorável, estressante.
Existem dois tipos de medo: o medo fisiológico, normal, e o medo chamado fobia. Os fóbicos, ao invés de enfrentar, tendem a fugir ou a evitar a situação que causa medo.
Exemplos de fobia: de falar em público, que é um dos medos mais comuns; de avião, de elevador, de ficar em ambientes fechados em meio à multidão, de insetos como as baratas, ou de animais como ratos. Diante desses objetos fóbicos, a pessoa entra em pânico, não conseguindo enfrentar a situação.
Todos nós sentimos medo, mas cabe nós enfrentar a situação. Se fugirmos, o medo cresce e cresce a dificuldade de enfrentá-lo. Só o enfrentamento é capaz de combater o medo. Se é um quadro fóbico ou de síndrome de pânico, é preciso tratamento médico, para favorecer a possibilidade do enfrentamento.



Livro Eduardo Aquino: O que os Jovens gostariam de saber e os Adultos têm dificuldade de responder.
2ª Edição – Belo Horizonte/ 1997.

O que é ódio?



Trata-se de uma forma de afetividade em que há um sentimento forte, concentrado, que é o oposto do amor (mas tão forte quanto ele). É uma raiva exagerada, às vezes descontrolada, com grande vontade de vingança, portanto perigoso, pois pode levar à agressividade e à impulsividade. O ódio é a origem das guerras, desavenças, separações, assassinatos, etc.. Quem sente ódio prejudica a si mesmo e perde a energia do prazer e a paz interior.


Livro Eduardo Aquino: O que os Jovens gostariam de saber e os Adultos têm dificuldade de responder.
2ª Edição – Belo Horizonte/ 1997.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

CAPÍTULO III: XARÁ, O DOIDÃO



Que começou na maconha e terminou no pó

Continuação


No dia seguinte, Ricardo foi à casa do Jofre, logo cedo, pedir desculpas aos pais. Muito sem jeito, apresentou-se:
- Meu nome é Ricardo, sou professor de Educação Física e dono da academia que a moçada freqüenta. Vim aqui porque quase não consegui dormir pelo problema que houve ontem à noite.
O pai não entendeu nada e disse:
- Que problema?
- Ah! O senhor não ficou sabendo?
- Não! O Jofre chegou tarde, como sempre, e não falou nada. O que houve?
- A reunião de ontem. Era para ser uma festa muito animada, mas infelizmente o Xará parecia estar alterado e provocou o maior tumulto.
- Com certeza usou droga. Lamentavelmente, está fumando maconha e já me disseram que está usando também xaropes e comprimidos. Não temos o menor controle sobre ele.
- Por isso queria pedir desculpas aos senhores. O Xará tentou mexer com uma colega nossa e me senti no dever de defendê-la. Acabei brigando com ele. Queria conversar, mas ele me agrediu e acertei-lhe um soco ao me defender.Sem querer, acabei ferindo-lhe o olho esquerdo e o nariz. Fiquei superchateado com isso e vim pedir desculpas.
- Nós é que devemos pedir desculpas e agradecer pelo seu senso de responsabilidade, pela sua boa educação. Só não sei se vale a pena. Apesar de sermos pais, cada dia nos entristecemos mais com o Jofre. Ele é um rapaz egoísta, só pensa em si. Acha-se o melhor, o dono do mundo.
- Verdade. Ele nunca admite que erra e não aceita conselho de ninguém.
- Está andando com as piores companhias e não consegue mais nenhum rendimento na escola. O pior é que encontra meninas sem cabeça que o admiram. Com isso, também se sente o todo-poderoso. Realmente, ficamos muito chateados, mas é bom saber que há pessoas como você e gostariam de ajudá-lo. Pois ele mesmo não se ajuda! Já tentamos de tudo: terapia e até internação. Mas ele não colabora e não assume tratamento nenhum.
- E ele é tão jovem! Dezesseis, dezessete anos é idade em que as pessoas acham que podem tudo. Ás vezes, acabam entrando nessas confusões: bebidas, drogas, sexo sem controle ... É pena que esses meninos não compreendam o que seja aproveitar a vida de verdade. Mas, de qualquer jeito, se o senhor me permite, vou esperar o Xará acordar.
- Pode ficar à vontade. Só que ele não tem hora de levantar. Anda trocando o dia pela noite e não há limites ou lei que ele respeite.
- Precisamos conversar. Isso nunca aconteceu e me aborreceu muito. Agredir alguém é muito ruim. Parece que ele ficou muito chateado. Até me ameaçou. Temos de conversar, de nos entender. Gostaria de ficar aguardando. Não gosto de deixar as coisas desse jeito. Se o senhor não se incomodar ...
- Absolutamente., Ricardo! Fique à vontade. Há umas revistas e um jornal na mesinha. Se você quiser, pode também ligar a televisão.
- Muito obrigado! Desculpe pelo ocorrido. Imagino o quanto o senhor tenta ajudá-lo. Sei como é difícil recuperar dependentes químicos.
- Tenho quatro filhos. Os outros três nos dão muita alegria, como você também deve dar a seus pais. Mas, confesso, o Jofre é um peso em nossa vida.
- Sou filho único. Lá em casa também sempre houve muito diálogo. Pena que o Xará tenha a cabeça tão vazia! Ele é jovem, inteligente ... Poderia trilhar outro caminho, não acha?
- Já procuramos todas as formas de ajuda, mas as drogas acabam com as pessoas. E, como a influência das más companhias, o usuário vai sofrendo uma deformação da personalidade. É o que está acontecendo com o Jofre. Está se tornando uma pessoa de mau-caráter. Nem parece que é nosso filho ...
- Deve ser duro para os pais terem de conviver com isso.
- Você nem imagina a nossa luta! Temos de pôr limites. Defender o lado bom da família. Afinal de contas, somos seis pessoas, das quais cinco batalham para sobreviver. Os outros filhos vão muito bem. Mas a vida é isto: ter boas e más experiências e aprender com todas elas.
- E isso exige, na maioria das vezes, verdadeiros malabarismos, além de muita fé e sabedoria.
- Tenho orientado os outros para que compreendam as atitudes estranhas do irmão. Se não for possível amizade, pelo menos que respeitem as diferenças de postura de cada um diante da vida. Temos até feito terapia familiar e freqüentado palestras.
- Ainda bem que o senhor e D. Maria José não têm motivos para remorso. Vêm tentando tudo que é possível!
- Mas ele mesmo não aceita nenhum tratamento. Anda mentindo muito e tirando coisas de casa para vender e comprar drogas. O único remédio é procurar entender a fundo esse drama e aprender a conviver com ele.
- O Xará ainda tem a sorte de ter pais tão compreensivos ...
- Aprendemos em nossa terapia que, por trás de um drogado, existe, sempre um ser insatisfeito consigo mesmo, imaturo, em busca de respostas para as suas angústias e ansiedades. E, ainda, todo viciado em droga, seja ela qual for, tem, na verdade, tendência à depressão, a fobias, apresentando muitos problemas sérios de timidez. Usa, então, a droga como artifício para relaxar, dormir e desinibir-se – disse D. Maria José, muito silenciosa até aquele momento.
- É verdade! Só que esquecem que estão mergulhando num poço sem fundo – concluiu o marido.
- Sem dúvida! Na minha experiência lá na academia, descobri que os jovens começam a usar drogas, principalmente maconha, porque têm alguma dificuldade psíquica, social ou afetiva.
- De fato, há alguns jovens que são mesmo muito complicados.
- Já pude observar três grupos: no primeiro, eles experimentam por curiosidade ou só de vez em quando. Dizem que é só para aumentar suas “sensações e percepções artísticas”. São ingênuos e julgam que não vão tornar-se dependentes. Justificam que faz menos mal do que cigarro e bebida. Ao segundo pertencem aqueles que nunca se interessaram, não querem experimentar nem por curiosidade. E o terceiro é o daqueles que, cada vez, vão usando mais. Associam a droga à bebida, acabam usando outras mais fortes e terminam tendo problemas até com a polícia.
- Como você é bem informado!
- Na academia, lido com jovens de todo tipo. E, além de ser licenciado em Educação Física, estou quase me formando em Biologia também. Na faculdade pesquisamos sobre esse tema, que é um dos mais graves hoje. Temos tentado ajudar não só o Xará, mas os colegas dele também.
- Já ouvi boas referências a esse trabalho que você vem realizando.
Parabéns!
- Há também um grupo de jovens, o senhor deve conhecer, que mexe com aquele movimento da Igreja e já tentaram levá-los, aos Narcóticos Anônimos. Muita gente tenta ajudar, mas eles resistem e não dão a menor importância. O Xará, por exemplo, já namorou moças fantásticas, que tentaram ajudá-lo, mas acabaram desistindo porque percebem que ele é ainda muito imaturo. Acabam se afastando, embora sua aparência chame atenção. Mas ultimamente ele está muito magro, o senhor não acha?
- Também pudera! Só chega de madrugada, não se alimenta direito. Troca o dia pela noite. Já falei, tentei apelar para sua vaidade, dizendo:
“Olhe, filho, você que é tão bonito deve se cuidar, pelo menos na parte física. Será que isso não é suficiente para você mudar de vida?”. Mas, confesso, não adiantou. Não temos uma situação financeira boa para tentar outras formas de tratamento mais eficientes.
- Nada até hoje deu certo para o Jofre – concluiu a mãe.
- Dói perceber o sofrimento dos senhores, que tudo fazem para a recuperação do Xará. A função dos pais é tentar dar apoio. Mas cada um traça o seu próprio caminho, faz a sua opção. Decidir pelo bem ou pelo mal é uma determinação de cada um. É uma escolha pessoal.
- Só que a decisão do Jofre foi, infelizmente, para o mal. É lamentável a sua escolha! – disse o Sr. Euclides, quase engasgado.
- Vocês não devem se sentir culpados pelas chantagens emocionais do Xará. Ele vive reclamando de tudo e de todos: da família, do colégio, dos amigos ... Fala mal dos professores, das meninas. Enfim, para ele o mundo está todo errado, só ele está certo. E, o senhor sabe, isso é típico de pessoas imaturas. Elas nunca erram.
- Verdade. Nosso filho se julga o dono da verdade.



Livro Eduardo Aquino: XARÁ, O DOIDÃO
Que começou na maconha e terminou no pó
2ª Edição – Belo Horizonte /2000

CAPÍTULO IX : SÍNDROME DA BABÁ ELETRÔNICA




Ou: Como tornar a vida artificial e ser punido com as leis naturais, ou ainda: A Batalha Final: o ser humano (criatura) inventa a tecnologia e enfrenta Deus (criador) e sua obra: a natureza. Quem vai ganhar?


Eis a mais grave das síndromes do fim dos tempos: conseguimos, em cem anos, contrariar todas as leis e regras naturais. Durante décadas, vimos dois sistemas políticos e econômicos se digladiarem: comunistas e capitalistas, suas paranóias e trilhões de dólares investidos em armas que destruiriam este planeta 159 vezes (que bobagem, bastava uma vez). No fim tudo terminou em pizza e a distancia entre ricos e pobres hoje é muito mais que 159 vezes maior. Quem lucrou?
Vimos ainda, o fenômeno da urbanização. Veio todo mundo pra cidade, seduzido pelas atrações urbanas (neon, shopping, carros, cinema, teatro, gente bonita e chique). Fazer o quê, aqui? Amontoados em favelas, esgotos, crimes, tráfico, cocaína, policia, bandido, transito que não anda, poluição ... Até gente boa acaba se revoltando e aderindo ao “já que é assim ....”.

Mas o pior nesse século foi a presunção dos seres humanos em criar AMBIENTE PERFEITO, CONFORTÁVEL, INTELIGENTE (?) ONDE MÁQUINAS CRIARIAM O IDEAL: a preguiça eletrônica! Máquinas de lavar, de passar, de lavar louça, para congelar, microondas para esquentar, TV (cinema em casa) com passador de canal e desligar automático, som com sleep, carro para acelerar o tempo, luz elétrica para substituir a luz solar, barbeador elétrico, batedeira, assadeira, churrasqueira eletrônica, vara de pescar eletrônica (ainda não, ah bom! – pois senão bastava um telão com imagens de Araguaia e você pescava em casa mesmo). Ar condicionado: Qual estação o senhor quer hoje? Está de terno de lã. Bem, sugiro o inverno paranaense com temperatura média de 12º. Vai um vinho tinto, doutor?
Mas o pior veio no fim do século: COMPUTADOR PESSOAL. Aí pronto, até INTERNET foi um pulo, multimídia, outro; e, enfim, surge o terceiro sistema (após capitalismo e comunismo) – o INDIVIDUALISMO ELETRÔNICO (ou tecnicismo!)
Ótimo:
1. Fim do divórcio (na internet é melhor: a transa é virtual e a mulher é ideal – não fala, não se vê e é sempre inteligente: usa a informática).
2. Fim dos conflitos com filhos: eles já têm o próprio micro e aprendem sexo virtual , não têm nem que usar camisinha! Não usam mais droga: já nascem viciados em computador e vídeo-game. TECNOFÍLICOS. E já não briga com a irmã, que faz as mesmas coisas no quarto ao lado, sem risco de engravidar.
3. Fim do trabalho fora: tudo é feito em casa, dispensa os funcionários no escritório e monta sua equipe: fax, Pentium, celular, TV a cabo (sou SAT).
4. Fim do congestionamento: ninguém vai precisar sair de casa (congestiona a linha telefônica, esqueci).
5. Fim da poluição sonora: todos em silêncio (mas que irritante esse barulhinho de tecla).
6. Todo mundo com LER: (lesão de esforço repetitivo). Calma, já estão criando a mão eletrônica, que deverá ser acionada com eletrodos ligados no couro cabeludo, mas tem efeito colateral, dá dor de cabeça ... Mas calma: estão inventando um eletrodo que diminui a sensibilidade à dor, só que dá queda de cabelo ... Mas calma, estão inven...
7. A humanidade após séculos e séculos de lutas entre classes sociais (escravos e conquistadores, reis e súditos, colonizador e colonizadores, classe operária e patronal, analfabetos e alfabetizados, agricultores e latifundiários) verá uma guerra estranha, TECNOFÍLICOS (viciados em tecnologia) X TECNOFÓBICOS (avessos à tecnologia), e assim surgirão novas espécies. Os informatizados e os desinformatizados. A coisa vai ser feia!
Enquanto isso, os informatizados terão o poder virtual e poderão punir e espancar os pobres desinformatizados (por exemplo, não passando a novela das oito ou desprogramando o metrô), mas terão que enfrentar vírus de computador que, de forma sabotada, foi inoculada pelos Tecnofóbicos, que também dinamitam a rede elétrica E OS Tecnofílicos ficam literalmente nus e malpagos. E que guerra feia vem aí pela frente ...

Ei, Tecnofílico, viu que ipê-amarelo lindo aí fora? E a lua, hein? Seus filhos estão lindos...
Já foi à praia, real? Ei, Tecnofóbico, computador é instrumento, é a roda do século XXI, se aproxima, ele não morde e, se usado com sabedoria, simplifica sua vida. Olha, acaba de dar na Globo (já tava demorando ...) foi descrita a Síndrome da Fadiga em Informação - o executivo já não consegue tirar informações prioritárias, se vicia na Internet, tem insegurança, se acha desinformado e perde 40% do tempo em meio a informações desnecessárias. Não come, não dorme, não dá transadinha e tem pesadelo de que se perdeu na Internet e que está no Irã, seqüestrado por um sistema de informática muçulmano-xiita. Um 286 da pior qualidade! É demais ...
Enquanto isso, lá no céu, Deus sorri e nos manda uma charada: o que é mais eficiente: a sabedoria, cuja matéria-prima é ter tempo para observar e experimentar a natureza que nos abençoa e abastece, ou a informação, que é gerada pelo ser humano, é contraste, vicia, confunde, nos traz dependência e nos liga à máquina (já não é a máquina que é ligada) e cria a síndrome da indecisão – já não conseguimos decidir -, pois não conseguimos renunciar e escolher entre bilhões de possibilidades virtuais da multimídia?
É ... será que o criador nos dará outra chance de resgatarmos a simplicidade, a humildade, a confiança, a fé, o desapego e principalmente o amor?
Repito aqui: tecnologia é informação, é intelecto, pensamento, ação. Mas quem faz carinho percebe o calor do beijo, do cafuné, do abraço, e a emoção e ternura de um olhar, o cheiro da relva, da alfazema, de uma flor, o gosto do néctar, da framboesa, da maçã. Que saudade de mim mesmo e do “outro” em minha vida. Sentimento não pode ser virtual, depende dos órgãos do sentido e da percepção do momento!

Livro Eduardo Aquino: Pequeno Manual de sobrevivência na selva das grandes cidades e também médias e pequenas ... Cidades.
4ª Edição - Belo Horizonte/2000.