terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CAPITULO IV:A SÍNDROME DO AVESSO DO AVESSO


OU: OS GRANDES PARADOXOS DO FINAL DO MILÊNIO

Eis que nos aproximamos a passos largos (ou seria melhor “o trânsito cada vez mais lento” e o tempo cada vez mais rápido, sem contar o tempo perdido pela pressa de querermos fazer tudo ao mesmo tempo) do final desta década, deste século, deste milênio – ufa, haja champanhe! O certo é que nunca os paradoxos foram tão evidentes. Senão vejamos:
1º) Pobres e ricos já são vizinhos e parceiros (de bairro, de supermercado, de praia, etc.) e costumam partilhar desde uma vista exuberante e – cá entre nós – mais privilegiada dos morros, e, sem dúvida, até mesmos problemas: polícia corrupta, trânsito louco, poluição sonora e do ar irrespirável, até os mesmos políticos e economistas, bem como as mesmas novelas. Falar nisso, qual o nome da antepenúltima novela das 8 da Globo? Não se lembra, nossa! Passaram-se quase 180 dias! Anda aproveitando mal o seu tempo, hein?
- Querida, sua cobertura é divina! Que vista linda, o Oceano Atlântico ali! Mas, meu bem, seu decorador é fantástico: no outro lado aquele painel de casebres é im-per-dí-vel! Deu pra ver cenas de bangue-bangue, sexo ao vivo e tudo mais.
- Já até contactei um aviãozinho e lá em casa hoje vai ter “carreiras”...
- Não, meu amor, eu odeio ópera.
- Ah! Deixa pra lá!
- Falar nisso, tem heliporto no prédio, em caso da evacuação rápida por guerra de tráfico? Não!!! Que descuido do arquiteto.
Pois é, bem que o Caetano avisou: cidade grande é o “avesso, do avesso, do avesso”, onde todo mundo se encontra e ta todo mundo só.
Algumas estatísticas impressionantes, lógico, não aparecem nos dados do IBGE, que alías está parado, pois os pesquisadores só retornam após a multivacinação dos cães, e quando os ricos retornarem de suas férias no Nordeste, a classe média voltar da excursão para Miami, e as sacoleiras de Nova York e os trabalhadores chegarem em casa, porque os ônibus estão retidos no congestionamento e os trens de subúrbio quebrados. Mas voltemos aos grandes paradoxos do fim do milênio:
2º) Quem tem dinheiro está passando fome pois quer emagrecer e gastar dinheiro no SPA mais famoso, e ver se encontra aquela atriz da Globo (deve ser um complexo não resolvido) que sofre de anorexia nervosa e cismou de perder 128 gramas da região peitoral, mesmo com os médicos dizendo que ali antes havia uma coisa chamada “mama”.
Quem não quer engordar está passando fome, pois não tem dinheiro. Não se esqueçam, somos o 2º lugar do mundo, no campeonato de desigualdade de distribuição de renda. Mas não se preocupem, se não acordarmos políticos, economistas e toda a classe dirigente, ainda nos conduziremos ao lugar mais alto desse pódium: o Pais mais injusto do mundo!
A última do SPA: a madame X foi flagrada em corrupção ativa, tentando trocar um pingente de ouro cravejado de diamantes por 2 rodelas de tomate com a cozinheira novata. Ambas foram levadas à 938ª Seccional da polícia onde foi lavrado o flagrante. Para o deleite da madame X, que saiu esfuziante com dois quilos a menos da delegacia (até se dar conta de que faltavam 2 braceletes, 1 relógio de ouro, Rolex ... legítimo, 8 anéis, 2 colares de pérola e 12 obturações de ouro). Registrada nova ocorrência e nunca mais se ouviu falar da tal madame X. O marido, quando se apercebeu, disso ( 7 meses depois), fez questão de doar duas novas rádio-patrulhas BMW para os valorosos defensores da lei (eu disse lei?).
3º) Desculpe a verborragia, mas adiantei o 3º paradoxo: quem quer proteção tem de tomar cuidado com a polícia. E os melhores assistentes sociais são os donos-de-boca-de-fumo. Mas não se iludam, já não existe diferença entre quem é bom ou mau, a favor ou contra a lei: tem muito marginal assaltando com colete roubado da polícia e muito policial à paisana em atitude suspeita. Violência urbana é assim! Recorremos a Sheakspeare, diante de uma blitz às 3 horas da manhã na linha vermelha: “Parar ou morrer? Eis a questão!”.
4º) Está se sentindo mal? Cuidado aonde vai. Segundo as últimas estatísticas publicadas na Veja e feitas pela USP, 59% dos médicos são pessimistas quanto ao futuro, 80% insatisfeitos com o que fazem.
“Ah! Tem convênio”. Bom sinal: em vez da fila de rua do SUS, agora é fila no telefone. O tempo de atendimento se equivale (3 minutos), mas no médico de convenio a gente sai cheio de pedidos e exames. Vale aí a estatística, é americana: 78% de exames normais, 60% de cirurgias desnecessárias É hipocondríaco? Ai, ai, ai, aposto que já tirou apêndice, vesícula ...
Hospital, cuidado. Ali é onde residem as mais virulentas das populações de bactérias. É isso mesmo, antibiótico para elas é que nem fermento para bolo, só faz crescer. Fuja rápido ou sua plástica ficará linda, mas a infecção hospitalar ainda te leva pro UTI.
- O quê? É bom que perde peso?
É, tem de tudo nesse mundo, até médico que cura e é carinhoso .... Juro!
5º) Outro paradoxo interessante é do rico preso em muros de 6 metros de altura, com guarda-costas, carro blindado, vivendo em “prisão domiciliar”, morrendo de medo de ser seqüestrado, ou apanhado pela Receita, ou apavorado se o banco em que aplica vai quebrar, ou se as ações vão cair. Ô vida de cão! Quanto à “geral”, vai bem, livre, leve, solta, baile funk, sol na praia. É .... mudou muito o conceito de liberdade! Como diria Einstein: “Tudo é muito relativo”.
6º) O Japão, a Europa, enfim o 1º mundo está descobrindo que o que antes era defeito dos brasileiros, latinos e africanos, tornou-se virtude: alegria, samba, sexo, preguiça, improvisação. E estão importando o futebol, a música, as mulatas e, ao mesmo tempo, nos vendendo tudo que deu errado lá. E olha nós importando “qualidade total”, reengenharias, organização e métodos, Best-seller de milagres econômicos...
“Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração” (valeu, Carlos Drumond de Andrade!).
7º) A lei do rápido que ficou lento: Ta com pressa em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, aliás em toda grande cidade, deixe o carro em casa, que tal ir a pé ou de bicicleta? Note quantos quilômetros você anda fazendo por hora no seu carro, ao ir e vir. A pé, 6 km/h e ainda produz betaendorfina que dá prazer e equilibra o colesterol, além de tirar a barriga. Bicicleta entre 20 e 30 km/h. Ta bom ... seu carro tem ar condicionado (não perca os próximos capítulos: Síndrome da Natureza Artificial) e você prefere nunca chegar no horário, mas adora o ar fresquinho e suar só depois com a bronca do chefe e ameaça de desemprego.
Ah! Que maravilha, a empresa entrou na Internet? Pois há estudos mostrando que 40 a 50% do tempo em grandes empresas são gastos em jogos eletrônicos, paqueras eletrônicas, sexo virtual e outras “distrações eletrônicas”. E o pior: de tanto ter acesso a milhões de informações, os executivos entram em stress por não saberem escolher, filtrar e organizar as informações e se queixam de que 63% de seu tempo é perdido na já chamada Síndrome da Indecisão, por falta de bom senso na escolha e capacidade de renúncia!
É informação veloz, multimídia, tecnologia de ponta, seres humanos cada vez mais lentos, bobos, regredidos (vício em joguinhos, mulheres peladas, paqueras eletrônicas e em casa mulher e três filhos esperando uma “atençãozinho que seja”).
É, meu filho vamos transformar este livreto em CD (mas espere eu morrer antes, ta?) ou seria o maior dos paradoxos.
É, está tudo errado, deu pra sentir? Talvez o mundo tenha virado de perna-cabeça e a Rede Globo e a Microsoft não nos tenha avisado para não atrapalhar o lucro com “toda essa loucura”, que ainda dá Ibope. Por falar nisso, foi feita uma pesquisa nos Estados Unidos, onde se constatou: notícia ruim tem 95 transmissores, “CE viu, Maria, o pai que matou as filhas, a mulher, o chefe e foi na maior calma assistir ao Robocop?”, e notícia boa tem apenas 16 transmissores, “está surgindo uma nova visão no estudo sobre o ser humano, chamado Ecologia Humana, que visa resguardar as relações saudáveis e naturais entre o meio ambiente externo e o meio ambiente interno do ser humano, procurando resgatar a harmonia, o bem-estar e o prazer natural pela vida”.
Quem quiser sobreviver ao final dos tempos modernos, fim do milênio e essa selva das grandes cidades, um aviso: saia desse transe de querer mais e mais conforto, mais e mais dinheiro, mais e mais poder, tecnologia, ilusões virtuais de um mundo individualista, tenso, inseguro, insatisfatório, e volte a resgatar seu tempo, seus amores, sua alegria: volte para a natureza, para Deus, lugar aliás de onde nunca deveria ter saído! Como? Instruções nos capítulos finais (não antecipe, por gentileza).

P.S.: Faça contato pelo blog www.eduardoandradeaquino.blogspot.com e também no Twitter: www.twitter.com/eduardoaaquino.Aos que quiserem ser .... parceiros, peço que leiam meu livro: Bem Vindo a Vida, lançado pela Editora Sextante, sublinhando conceitos que julgarem relevantes. Este é o livro básico que em forma de romance, apresento minha visão do mundo.Pode se encontrado nas melhores livrarias, e também ser obtido via internet (submarino.com, americanas.com, leitura.com, etc..).

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