Item importante no dia-a-dia escolar
Na verdade, nós profissionais do comportamento humano, médicos em geral – principalmente o psiquiatra – psicólogos, pedagogos, professores, neurocientistas, pesquisadores, sociólogos, religiosos, podemos perceber uma coisa estranha: quanto mais os jovens e também os adultos têm-se tornado tecnofílicos (viciados em eletrônicos, TV, computador, vídeo games, internet, aparelhos de som, e outros), maior a dificuldade de comunicação entre as pessoas. Em casa, nas relações pais e filhos, marido e mulher, irmão e irmã, no trabalho, na escola, em ambientes sociais. Com isso surgem outros fenômenos, como o aumento do uso de bebidas, cigarro, drogas que vêm sendo usadas para “ficar numa boa”, socializar ou dar coragem de enfrentar a vergonha, o medo, a ansiedade, a angústia. Só que são alternativas desastrosas e podem levar á dependência, ao vício e a uma série de problemas físicos e psicológicos.
Outro fenômeno é do “namoro virtual”, em que as pessoas são superdesinibidas e audaciosas nas paqueras via internet, mas morrem de medo de se encontrar na vida real, ou perdem a graça quando esse encontro acontece. Não conseguem dar continuidade á relação: enjoam rápido, o diálogo esfria e a timidez afetiva vem á tona.
E há ainda o falar no celular. Duas pessoas são capazes de conversar por horas e horas usando o aparelhinho, mas, quando se encontram pessoalmente, falta assunto e a conversa, apenas em monossílabos, morre em poucos segundos.
Como explicar esses fenômenos? É um paradoxo. Quanto mais os meios de comunicação evoluem, menos as pessoas conseguem expressar a verdade de seus pensamentos, sentimentos e desejos. Ao invés da naturalidade e espontaneidade nas relações afetivas, do “olho no olho”, vemos mais é a relação fria, olho no vídeo, ou na tela, ou boca no telefone.
Na verdade, existem timidez e dificuldade de comunicação entre as pessoas desde a pré-história. O outro – namorado, cônjuge, amigo, irmão, colega de trabalho ou desconhecido – sempre significou um grande problema para mim – eu, você educador, ou qualquer um de nós, seres humanos. É que fazemos parte de uma espécie inteligente, mas por enquanto muito complicada – pois espero que daqui a milhares de anos possamos melhorar nosso comportamento e o grau de respeito ao nosso semelhante.
Mas, hoje, ainda morremos de medo de falar, dar opinião, errar, receber crítica, ser mal compreendido, ridicularizado, punido. Sofrer gozação, rejeição, ferir ou incomodar o outro com a nossa opinião. Enfim, temos medo do confronto, da reação do interlocutor! Cria-se o conflito mental: “falo, não falo”, “minto, não minto”, vai compreender, não vai compreender” e por aí afora. Outras vezes, jogamos xadrez psicológico. “Eu acho que ele acha que eu estou achando que ele...”. Ufa! Que Odisséia! Ô guerra inglória! Todo mundo infeliz, ora engolindo, ora vomitando sapo. E sinceridade, afeto que é bom, nada!
Por isso a idéia de fazer um manual e, alertar educadores sobre a importância de desenvolver as relações humanas com atividades prazerosas: fazer teatro, contar histórias, tocar um instrumento musical, acampar no mato, comer pipoca na praça, fazer trabalhos sociais, namorar. E ainda encontrar os colegas e amigos para falar de nossos sentimentos, medos, angústias e ansiedades. Para isso, por favor, desligue a TV, o vídeo game e o computador!
A timidez é inerente ao ser humano, embora uma pequena parcela – aproximadamente 5% - sejam extrovertidos por natureza ou temperamento – talvez um presente genético. Erradamente, esses alegres e expansivos privilegiados tentam incentivar os tremendamente tímidos com pérolas do tipo “deixa de ser bobo”, “vamos lá”, “qual o problema? “Estes “agraciados”, em geral, são líderes, empreendedores e bem sucedidos em tudo.
E os outros 95%? Bem, esses apresentam diferentes níveis de timidez. Temos a seguinte:
.. 0,1 – Quase não percebem que são tímidos;
. 1,0 – Um pouco tímidos, mas ás vezes escorregam e ficam sem graça;
. 2.0 – Ligeiramente tímidos, gaguejam um pouco quando entrevistados na TV, por exemplo.
Assim, o grau de timidez vai se elevando até atingir, por exemplo:
. 7.0 – Pronunciadamente tímidos. Nunca falam em público, suam as mãos., ficam vermelhos e nunca vão a festas e reuniões, mas paqueram na internet!
. 8.0 – Bochechas vermelhas, falta de graça constante, desajeitados. Evitam sair até para a casa de parentes, acham-se ridículos, têm baixa estima, falam para dentro, nunca levantam a mão em sala de aula. Adoram TV, computador e som.
. 9.0 – É fechado até com os pais. Evita e foge das pessoas e reuniões sociais. Lê muito, é inteligente, joga xadrez com o computador. Mas só responde com monossílabos ou expressões curtas (sim, não, oi, já vou, mais ou menos). Nunca namorou, nem tentou. Estuda inglês, mas não consegue falar. Faz o possível para não ser notado, nem ser convidado para nada e não receber ligações.
. 10.0 – Alguém conhece? É quase virtual. Todos sabem que existe, mas ninguém o encontra. É prisioneiro da pior prisão. Desconfia de si mesmo. É incapaz de falar de seus pensamentos, sentimentos e sonhos. Sente medo de tudo e de todos. Tem vergonha de ser desse jeito, mas não consegue ver outra forma de ser.