LIVRO EDUARDO AQUINO: XARÁ O DOIDÃO
Todo mundo que conhecia Xará, apelido que o Jofre ganhou por chamar a todos dessa forma, sempre comentava: esse cara é muito doidão!
Xará tinha dezessete anos e sempre foi um menino problema. Ruim nos estudos, já havia tomado três bombas e trocado diversas vezes de colégio. A todo lado que ia, era sinônimo de confusão.
No início, bem que fazia sucesso. Rapaz bonito, olhos e cabelos pretos, Ora amarrados em rabo-de-cavalo, ora jogados para o lado. Físico atraente, embora estivesse ultimamente muito magro. As meninas sempre o achavam o máximo! Teve muitas paqueras, namoradas, e “ficou” com dezenas de colegas. Mas, engraçado! Ninguém agüentava ficar muito tempo com ele. Namoradas ou colegas, depois de algum convívio, estranhavam seu comportamento, sua imaturidade, e iam-se afastando.
Os pais, o Sr. Euclides e D.Maria Jose, já não conseguiam mais dar conta dele. Levaram-no para fazer terapia com um psicólogo, mas nada adiantou.
A preocupação já era fazer com que os outros filhos não sofressem a má influência do irmão transviado.
Jofre era mesmo um tremendo aprontador. Na turma, muitas vezes, era quem sugeria as brincadeiras mais absurdas e sem graça:
- Ô gente! Vamos colocar este extintor de incêndio no carro, e sair jogando em todo mundo?
- Que isso, Xará? Brincadeira mais sem graça!
- Vai ser legal, o pessoal vai levar o maior sustão!
Não percebia o quanto era vazio e imaturo. Faltava-lhe autocrítica e bom senso. Por isso, tumultuava as reuniões e não era bem aceito em ambientes saudáveis.
Não tinha o verdadeiro espelho, que é o da percepção de sua própria alma. Acomodava-se, julgando-se “o bom”, e não fazia nenhum esforço para melhorar o comportamento ou aprimorar o caráter.
Um dia, o pai lhe disse:
- Na vida, meu filho, ou se estuda ou se trabalha! E há alguns que conciliam as duas atividades, como seus próprios irmãos. Não dá mais para você continuar desse jeito: já tomou três bombas nesta série e eu e sua mãe decidimos que não vamos mais pagar colégio para você no próximo ano!
- Que isso, velho! Já te falei, o pessoal lá no colégio pega no pé demais. Esse colégio está um saco! Quem agüenta ficar quatro ou cinco horas trancado numa sala de aula? Eu sei lá, tinha que existir escolas iguais ás da Grécia: todo mundo ao ar livre, entendeu? Cada um na sua.
- Filho, eu não quero saber de suas teorias! E aulas ao ar livre foi no tempo de Sócrates e Platão, que questionavam as pessoas e dialogavam com o povo nas praças públicas e nas ruas.
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