sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O RESGATE DAS COISAS SIMPLES DA VIDA



Coluna Eduardo Aquino para a Revista "Dieta Já".


O mundo virou de pernas para o ar! Literalmente. Quem tem dinheiro e comida está passando fome, pois quer emagrecer. Quem é magro e quer comer passa fome, pois não tem dinheiro para comprar comida. Chegamos ao fim dos tempos: as controvérsias se aproximam perigosamente e os paradoxos já não causam tanto espanto: quer ir rápido? Evite o carro – preso em intermináveis congestionamentos – e vá a pé, é mais rápido. Ficou doente, cuidado com os hospitais, ou sua gripe vira infecção hospitalar e te mata em dois tempos. E por aí vai ... e mal.
Quanto a comer, algo extremamente natural há mais de 400 milhões de anos, atualmente virou um drama. Aliás, sendo mais preciso, virou doença, das mais graves e, nesse pós-Freud, uma das principais neuroses modernas: comer ou ser bonito, eis a questão!
Entre anoréxicas (magrelas e obsessivas, com verdadeiro ‘HORROOOR!” a alimentos, um extremo da aversão e da vaidade doentia), obesas ansiosas (quanto mais insatisfeitas, mais compulsivas, e dá-lhe bombom Sonho de Valsa) e bulímicas ( o pecado, a culpa e o ritual do vômito de alívio), lá vamos nós complicando a simplicidade da natureza. Aliás, os únicos mamíferos que têm problemas quanto a sexo, alimentação e sono somos nós. Você já viu algum macaco ter problema de insônia? Elefanta ficar grávida antes da hora? Ou girafa com problema de obesidade?
E que complicação foi Deus nos ter dado a habilidade de pensar! Só dificultamos as coisas e criamos um mundo todo complicado.
Mas voltemos à “vaca-fria”: por que as desordens alimentares (anorexia nervosa, bulimia e obesidade ansiosa) se tornaram epidêmicas? Primeiro recordemos que padrão de beleza é coisa de época: nos séculos XVI, XVII e XVIII, as rechonchudas faziam um sucesso tremendo. Ô época boa, hein!? Comia-se às toneladas, lípide e celulite pra todo lado, e ainda posava nua pra qualquer pintor famoso. Ai, ai, talvez em vidas passadas .....

Mas veio, em pleno século XX, lá pelos anos 60, uma tal de manequim inglesa. Twig? Cadavérica. E foi um sucesso. Ponto para as esquálidas e magrelas com seus ossinhos aparecendo. Começou a neurose. Mas, pior 20 anos depois, as Madonnas acrescentaram músculos e contornos esculpidos. Ai foi o fim: fome, suor e ... lágrimas! Mas o império da indústria alimentícia contra-ataca: bombardeio de mídia, os alimentos são embelezados, adocicados, uma legião de sedutoras tortas, mousses, sorvetes, cremes nos invade por todos os lados. Há invasão domiciliar com freezer, geladeiras, microondas.
Ora congelados, ora fumegantes, mas principalmente rápidos fast-food, e até que achamos gostoso um Big Mac e uma pizza Hut. Eu me rendo, eu me rendo!
Mas ainda há esperança: nas academias, no programa Malhação, da Rede Globo, e nas novelas subseqüentes, um exército de resistência, músculos reluzentes, carinhas de anjo ... E a tudo assistimos ansiosamente, comendo pipoca, tomando coca-cola, comendo Diamante Negro e sonhando ser como eles, seres de outro mundo, platinados, e que venceram a inglória batalha contra carboidratos e lipídios, usando apenas sua ração hiperprotéica.

“- Acorda filha, é segunda-feira!” E lá vem o dia mundial de começar o regime, e também, do mau humor, de “matar” o serviço e curtir a ressaca de culpa do fim de semana, pelo abuso geral e irrestrito.
Não desanime, a receita é simples: faça como qualquer animal irracional – durma com a noite, acorde com o dia, exercite na busca de caça (para nós tem forma de papel-moeda), ame e seja amado, respeite as leis naturais.
Quanto a comer, experimente mastigar calmamente e sentir o sabor que coloca na boca. Sabia que a mastigação eficiente e as papilas gustativas, responsáveis pelo paladar, são inibidores naturais do centro da fome no cérebro e inibem o apetite? Procure dar uma pausa entre o 1º e 2º prato. Cinco minutinhos, e acaba aquela compulsão. Afinal, tudo na natureza é rítmico. E nós, nessa arritmia toda! Saciar é ato de satisfazer-se calma e serenamente, sentindo prazer em cada ato de viver. Sinta – e isso significa usar o cinco sentidos em tudo que fizer (olhe, ouça, cheire, toque, deguste), seja caminhar apreciando a Natureza, transar com a pessoa amada, comer a desejada refeição.
Eis a melhor receita para se viver bem num mundo que se complicou tanto: ser simples, natural e sábio.

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