quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

ECOLOGIA HUMANA

A natureza que ensina, resgata nossos ritmos e nos torna harmônicos, ao resgatar a simplicidade no nosso dia-a-dia.

Vamos refletir sobre uma das áreas mais interessantes do conhecimento humano e que será fundamental ao falar em saúde no terceiro milênio: a Ecologia Humana. Significa cuidar bem do meio ambiente interno, evitando a “poluição” causada por nossos maus hábitos e pela vida artificial e desgastante. Resgatar os ritmos e leis naturais – aquelas que devem nos reger, mas que o mundo tecnológico, moderno e rápido, nos roubou em nome do Conforto e da modernidade. Deu no que deu: o homem tecnológico é confortavelmente viciado em coisas artificiais e falsas. Está, por isso, sempre doente do corpo e da alma.
Hoje sabemos que há apenas um ser um ser que não obedece aos ritmos naturais: o ser humano. Nos “poluímos internamente” em , aparentemente, pequenos detalhes, que na verdade são grandes causadores de problemas físicos, psíquicos e comportamentais.

Um exemplo claro e inequívoco é na área que denominamos cronobiologia, uma das ciências afins á Ecologia Humana: cronos – de origem grega – significa tempo, bio – vida, logos – estudo, ou seja, o estudo entre vida e o tempo, um exemplo é o estudo sono – vigília determinando modificações no físico e no humor do ser humano. Vamos a algumas situações interessantes:

A arquitetura (ou fases) do sono obedece a critérios que estabeleceram o que cientificamente chamamos de Relógio Biológico, modulado por um hormônio chamado melatonina. Temos 5 fases do sono.

Fase 1/Fase 2 – Sono leve (captamos estímulos ambientais ruídos, luz, fatos, etc.).
Fase 3/Fase 4 – Sono profundo (há completo desligamento, nos tornamos mais vegetativos) é o sono que descansa e renova a energia vital).

Fase 5 – Sono REM (rapid eyes moviment – movimento rápido dos olhos) – é o sono de sonhar, importante regulador do humor, da vitalidade, além de fonte riquíssima e ainda pouco conhecida de elementos que povoam nossos arquivos de memória e informações herdados de nossos ancestrais (memória ontogenética). Tem sido objeto de pesquisa pelos psicólogos e psiquiatras transpessoais no processo chamado Regressão a Vidas Passadas, de religiões espiritualistas que crêem na reencarnação, ou ainda culturalmente os orientais (hindus, budistas) que defendem a visão KARMÁTICA do retorno. O certo é que fé e ciência começam a se aproximar e descrever fenômenos semelhantes.

Assim alterações da arquitetura do sono ocasionam diversos problemas como:
A) Insônia Inicial: dificuldade de conciliar o primeiro sono, típico do ansioso, estressado, o “pensador” compulsivo que não consegue relaxar e assim demora muito a dormir com ressaqueamento no dia seguinte.
B) Insônia terminal: acordar precocemente em plena madrugada (após 2,3,4 da manhã) e não conseguir voltar a dormir – característico dos quadros depressivos graves com intensa modificação do humor e em geral, o despertar é acompanhado de pensamentos negativistas, obsessivos, de ruína com grande sofrimento mental – Angústia matinal.
C) Insônia universal: Não consegue dormir a noite inteira. Típico dos quadros agitados (mania, esquizofrenia) ou de forte excitação (bebida, drogas, cafeína, atividade física intensa, emoções fortes, acontecimentos inesperados)
D) Sono interrompido: (“leve, picado”), diversos despertares e voltar a dormir. Típico de idosos, trabalhadores em turnos alternados, plantonistas noturnos, problemas de micção freqüente e outros.
E) Terror noturno: Pesadelo, vivências ruins, pânico noturno acompanhado de gritos e/ou choro, confusão, nível de consciência crepuscular (sonhando/desperto). Mais comum em crianças com distúrbios de comportamento/depressão, doentes com problemas neurológicos, estados febris delirantes, drogadição.
F) Movimentos involuntários pernas/braços: podem ocorrer nos quadros de epilepsia parcial, quem usa antidepressivos, distorção depressiva ansiosa, entre outros.
G) Sonambulismo: Atividade motora (sentar, andar, movimentar) feita de forma automática, sem consciência ou memória posterior. É importante pesquisar atividade elétrica e bioquímica cerebral como equivalentes epiléticos, depressão – ansiedade.
H) Apnéia noturna (Doença do ronco): Padrão de ronco típico, de alta sonoridade, progressivo, com interrupção (+ de 10 segundos) – apnéia – período em que não consegue respirar, há baixa de oxigênio e esse sofrimento “desperta” a pessoa (sem que haja percepção disso) que retoma a respiração e o padrão do ronco. Podem ocorrer dezenas ou centenas de apnéias e despertares durante a noite. É um problema grave e fatal em poucos casos. É de natureza obstrutiva (dificuldade de ventilação e passagem do ar) nas vias aéreas superiores. Exige cirurgia desobstrutiva ou uso de aparelho noturno. A obesidade é uma das causas mais comuns.
I) Narcolepsia: Após quadros de apnéia (que impede sono profundo 3-4) pode ocorrer uma sonolência abrupta, profunda e perigosa durante o dia. Causa importante de acidentes automobilísticos, por exemplo em caminhoneiros e motoristas que usam “rebites” excitantes para não dormir e modificam a arquitetura do sono.

Hoje, a criança e o jovem cometem uma série de “heresias” em matérias de relógio biológico com perda importante de potencial cognitivo (as funções nobres do intelecto, do afeto e força de vontade), como perda de memória, concentração, desvitalização, imitação, baixa condição de reter novos conhecimentos, piora do aprendizado, agressividade, depressão, e outras modificações comportamentais.

Assim pequenas regras, podem ser de imensa valia. Exemplos:
1. Sono ideal – horário máximo para dormir: 22 horas.
A parte mais nobre do sono acontece entre as 23:00 horas e 03:00 horas da manhã. Horário máximo para acordar: 06:00 horas. Após esse horário aumenta o sono REM, que é o sono dos sonhos, desvitalizador e depressivo.
2. Uma noite em claro – (festas, TV, computador, vídeo game) exige 7 dias, para ser reposto e restabelecido o fuso horário (equivale a uma viagem do Brasil ao Japão).
3. Duas noites seguidas em claro – (por exemplo, sexta e sábado), constituirão perda grave do relógio biológico, pois exigiria duas semanas para regular o fuso horário do relógio biológico (o que é impossível, já que os jovens saem todo fim de semana) e equivaleria a ir do Brasil para o Japão, e voltar para o Brasil na noite seguinte. Como resultado: sonolência diurna, insônia noturna, cansaço, apatia, imitação, preguiça, grave déficit de aprendizado.
4. Dormir até tarde – (9-10 da manhã) alunos que estudam á tarde, e após o almoço, os que estudam no turno da manhã. O sono diurno (inclusive nos finais de semana) não consegue reproduzir a arquitetura correta do padrão noturno e com isso não repõe cansaço, ao contrário “esgotam”, deixam o jovem apático, protelador, mal-humorado “geração cama” e com inversão do sono (dormem tarde, acordam tarde).
5. Ciclo circadiano – Embora exista um relógio biológico ontológico (que acompanha a humanidade desde os primeiros homens) temos ritmos individuais. Por exemplo: o matinal – madrugador rende muito pela manhã. O vespertino: “acende mais á tarde”. O notívago: “adora a noite”. E muitas vezes o humor oscila durante o dia. A isso chamamos ciclo circadiano.

A percepção e a caracterização dessas características podem determinar importante melhora de rendimento escolar (elaborativo) quando se ajusta o turno a esses padrões individuais.
Por fim, nunca devemos esquecer que embora tenha como principal função a adaptação física e psíquica do ser humano ao seu meio-ambiente, o cérebro adora pessoas harmoniosas e rítmicas, que o ajudem a regular atividades, hábitos – comer, dormir, trabalhar, ter lazer – e evitando que o cérebro, nosso computador biológico, tenha o “stress adaptativo”, enlouquecendo com a pessoa imprevisível, desafinada, caótica.

Um comentário:

  1. Muito boa a sua matéria, tendo em vista que a grande maioria dos jovens e pessoas ativas não se enquadram ao ritmo natural do homem. Entretanto, a pergunta que não quer calar é essa: como modificar os hábitos sem ficar excluído socialmente na época em que vivemos?

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